A guerra civil europeia que devastou praticamente um continente inteiro pode ser aproximada sob diversas vertentes: sociais, económicas, políticas, militares, etc. A abordagem aos feitos militares que foram determinantes para os resultados que vieram a ocorrer, conjugada com o apreço pelas qualidades de liderança, heroísmo, visão política e determinação, são a essência do texto que nos oferece Alexandre Gonçalves.

As linhas que escreve contêm a dupla virtude de nos conduzir de uma forma sentida pelas operações militares, avivando-nos as memórias que não vivemos e, por outro lado, fazendo-nos chegar ao mais profundo da natureza humana, quando simples mortais são colocados em situações extremas. E isso faz-nos reflectir, não só no que herdámos na Europa mas também naquilo que somos e no que poderíamos ser, sobretudo porque nunca teremos a resposta à seguinte pergunta: e eu, se estivesse lá estado como me portaria? Iria morrer...??? Queria tanto ter sido herói...

Alexandre Gonçalves teve a iniciativa de homenagear o desembarque aliado na Normandia, expondo ilustrações e desenhos, bem como modelos e memorabilia da Segunda Guerra Mundial, na Livraria Barata, em Lisboa, uma louvável iniciativa para que não esqueçamos a dívida de paz e bem estar que contraímos. O texto que se segue acompanha essa exposição e foi-nos gentilmente cedido pelo autor, um profundo apaixonado não só pela região como pelos acontecimentos de que foi palco a Normandia.

 


 

O Mundo em Guerra

1 de Setembro de 1939, a Alemanha invade a Polónia, a Segunda Guerra Mundial tem início. O mundo assiste estupefacto à rapidez do assalto Germânico; a “Blitzkrieg” (Guerra Relâmpago), mostra como se faz a guerra moderna - velocidade e mobilidade, exército e aviação em perfeita parceria, no Atlântico, os navios mercantes vão ao fundo em ritmo alarmante, vítimas dos U-Boote. O Mundo livre vai caindo de joelhos e treme de medo.

Nos 3 anos seguintes, a quase totalidade da Europa conheceu a eficácia mortífera desta nova táctica. A França, cujo exército se julgava invencível, descansava à sombra da Linha Maginot, considerada intransponível por Generais de outras guerras  foi humilhada e em poucas semanas acenou a bandeira branca. A Grã-Bretanha aguentou firme e sozinha o peso da Luftwaffe, nunca foi invadida e deu a conhecer o primeiro sabor da derrota à toda poderosa Alemanha no épico confronto em que “nunca tantos deveram tanto a tão poucos” e que ficou para a história como a Batalha de Inglaterra.

No Norte de África, os Italianos levam “baile” dos “Tommies”, a situação inverte-se com a chegada do Afrika Korps de Rommel. No Pacífico os Japoneses acordam o gigante adormecido ao atacarem sem aviso a frota Americana em Pearl Harbour. Os Estados Unidos entram na dança e os Ingleses agradecem. Hitler comete o erro fatal de invadir a União Soviética e, sem o saber, assina a sentença de morte do Terceiro Reich. O General Montgomery chega a África e expulsa definitivamente Italianos e Alemães do deserto africano na Batalha de El Alamein.

Em Estalinegrado, no dia 31 de Janeiro de 1943 o 6º Exército de Von Paulus rende-se ao 62º Exército de Chuikov. Na mais violenta e igualmente decisiva batalha de toda a guerra, o mito da invencibilidade Germânica cai por terra, para não mais se erguer. O ponto de viragem havia chegado. Em Kursk, a iniciativa ofensiva dos Russos foi ganha na maior batalha de blindados da história para só terminar na Chancelaria do Reich em Berlim. No Atlântico, os U-Boote vão ao fundo em vez de afundarem navios. De 40.000 marinheiros, somente 10.000 voltam a casa.

No Pacífico, os Americanos ganham o domínio dos mares aos Japoneses na Batalha de Midway, no Mediterrâneo, os Aliados desembarcam na Sícilia e, apesar de massacrados nas praias de Anzio, libertam uma Itália que “dá para os dois lados” mas que pendura Mussolini de cabeça para baixo num poste e recebe os Anglo-Saxões com dedos em V. Entretanto, os Três Grandes haviam já decidido uma data para a abertura da 2ª Frente - a muito aguardada ofensiva que Estaline exigia de Roosevelt e de Churchill.

A Frente Oeste unir-se-ia à Frente Leste, algures no meio de uma Alemanha destroçada por incessantes bombardeamentos aéreos. Dia 6 de Junho de 1944, manhã do Dia-D, 156.000 homens desembarcavam nas costas da Normandia, precedidos por 18.000 para-quedistas que haviam saltado 5 horas antes. No fim desse dia, quase todos os Generais Alemães perceberam que a guerra estava perdida, era o principio do fim do Reich dos 1000 anos. Finda a Batalha da Normandia, reinava entre os Aliados a convicção de que os Alemães estavam “por um fio”. Paris, devolvida aos seus, era de novo a cidade luz.

Em Setembro de 44 o Marechal Montgomery elaborou um plano para terminar a guerra antes do Natal. Chamou-lhe Operação “Market Garden”, se fosse bem sucedida, “it would bring the boys back home” (traria os rapazes para casa). Os serviços de informação garantiram que na Holanda já só estavam Alemães velhos e crianças mas enganaram-se, os velhos e crianças eram SS veteranos e muitos Tanques - claro aviso de que os Alemães não estavam “por um fio”. Os rapazes não passariam o Natal em casa.

Em Dezembro, novo aviso - na floresta das Ardenas, sob a copa das árvores, mesmo debaixo do nariz dos Americanos, Hitler conseguiu a proeza de reunir 20 divisões blindadas e, durante um terrível mês, pôs os GI Joe’s em sentido; mas este, foi o último estertor do moribundo, sem combustível os temiveis “King Tiger” e outros tantos “Panthers” morreram de fome nos caminhos cobertos de neve. Agora, restava apenas a defesa da Pátria, com os Anglo-Saxões ás portas da Alemanha a Oeste e os Soviéticos a Leste, a tenaz fechava-se inexoravelmente sobre a fantasia de um mundo louro de olhos azuis.

Berlim falava russo e a casa de Hitler nos Alpes falava Inglês. O homem, propriamente dito, suicida-se a 30 de Abril na Chancelaria. A 9 de Maio de 1945 os canhões calam-se na Europa, no Japão a guerra continua, os soldados do Imperador enterram-se nas cinzas e montes de Iwo Jima e Okinawa e levam com eles mais uns milhares de “Marines”. Nada que duas bombas atómicas não resolvam. Seis anos e 60 milhões de mortos depois, silenciam-se os restantes canhões no dia 15 de Agosto de 1945.

 

 

Reviver e honrar o passado

 (continua)